“Discurso
ao senhor duque de La Rochefoucauld
Observando
as ações dos homens, cada dia mais me convenço de que elas se assemelham às dos
animais. E para comprovar minha teoria, exemplifico com uma história que
aconteceu comigo.
Tendo
saído para uma caçada, de tocaia no galho de uma árvore, vi um coelho
distanciado dos outros. Atirei nele e matei-o. O estampido fez com que todos os
coelhos que estavam por perto fugissem rapidamente e procurassem segurança em
cavidades subterrâneas.
Mas,
dali a pouco, os coelhos voltaram à superfície e continuaram suas vidinhas
alegres e corriqueiras, esquecidos do perigo que há pouco os assustara.
Não age
assim também a espécie humana? Ameaçados por uma tempestade, os homens procuram
proteção num “porto seguro”, colocando em segurança a sua vida. No entanto,
passado o perigo, eles se expõem novamente a outros temporais, quem sabe até
mais violentos.
E para
reforçar minha argumentação, cito ainda outro exemplo:
Quando
os cães passam por territórios estranhos aos que lhe são costumeiros, provocam
a ira dos animais locais que, a latidos e dentadas, espantam os supostos
invasores por pressentirem neles uma ameaça aos seus domínios.
Os
homens se assemelham aos cães quando atacam o que é novo por medo de serem por
ele substituídos. Segundo a lógica dos seres humanos de vida trivial, quanto
menos inovação, melhor.
Assim
acontece também com os escritores. Dizem os mais antigos: “Abaixo o novo
autor”. Que haja ao redor do bolo o mínimo de sócios. Essa é a regra do jogo e
dos negócios.
Tolos
são os homens! Não vêem eles que, passado o primeiro impacto, as coisas se
acomodam? O novo ganha seu espaço muitas vezes sem invadir o espaço alheio. E
dali a algum tempo, findo o sabor da novidade, tudo se ajeita. Até que apareça
outra inovação e a história se repita.
E vós,
a quem este discurso de dirige; vós, em que a modéstia à grandeza se alia; que
vosso nome receba aqui uma homenagem do tempo e dos censores pelo justificado e
merecido louvor.” (Jean de La Fontaine)
Os homens
vivem expostos aos perigos, alguns podem ser previstos e existe a prevenção
contra eles, outros são inesperados.
Alguns perigos
são evitáveis, mas devido a acomodação humana eles podem ocorrer e causar
sérios prejuízos devido a sua gravidade.
Os caçadores
estão sempre em busca de suas presas, as observam de perto e de longo, se fazem
como pessoas comuns para poder passar despercebidas por suas prováveis vítimas.
Quando os caçadores quando não conseguem alcançar suas presas, às vezes tentam
pegar a presa que estiver ao seu alcance apenas para alimentar ainda mais seu
instinto caçador, mortal e destruidor, pois, mesmo assim não estarão
satisfeitos, apenas alimentarão ainda mais seu instinto.
Os homens
buscam se defender dos males, utilizam as mais diversas técnicas e maneiras,
podem evitar que pessoas más os atinjam, mas eles sempre estarão ao seu redor,
planejando e buscando uma forma de atacá-los.
Os homens ao se defenderem devem ter cuidado, pois existe um limite para sua defesa, o excesso deve ser evitado, pois, ele pode colaborar para extensão das gravidades decorrentes das ações e reações e que gerarão inúmeras consequências.
O novo
nem sempre é aceito, embora possa ser bom ou não, muitas vezes é criticado e
dispensado antes mesmo de ser conhecido. Devido à existência do novo, muitas
desconfianças podem ocorrer, bem como ameaças para afastá-lo ou o impedir,
assim como existe o medo de conhecê-lo, também existe o medo de perder seu
lugar á ele ou até de conviver com ele, mesmo que ele não queira tomar nada de
você.
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