domingo, 7 de outubro de 2012

OS COELHOS


“Discurso ao senhor duque de La Rochefoucauld

Observando as ações dos homens, cada dia mais me convenço de que elas se assemelham às dos animais. E para comprovar minha teoria, exemplifico com uma história que aconteceu comigo.

Tendo saído para uma caçada, de tocaia no galho de uma árvore, vi um coelho distanciado dos outros. Atirei nele e matei-o. O estampido fez com que todos os coelhos que estavam por perto fugissem rapidamente e procurassem segurança em cavidades subterrâneas.

Mas, dali a pouco, os coelhos voltaram à superfície e continuaram suas vidinhas alegres e corriqueiras, esquecidos do perigo que há pouco os assustara.

Não age assim também a espécie humana? Ameaçados por uma tempestade, os homens procuram proteção num “porto seguro”, colocando em segurança a sua vida. No entanto, passado o perigo, eles se expõem novamente a outros temporais, quem sabe até mais violentos.

E para reforçar minha argumentação, cito ainda outro exemplo:

Quando os cães passam por territórios estranhos aos que lhe são costumeiros, provocam a ira dos animais locais que, a latidos e dentadas, espantam os supostos invasores por pressentirem neles uma ameaça aos seus domínios.

Os homens se assemelham aos cães quando atacam o que é novo por medo de serem por ele substituídos. Segundo a lógica dos seres humanos de vida trivial, quanto menos inovação, melhor.

Assim acontece também com os escritores. Dizem os mais antigos: “Abaixo o novo autor”. Que haja ao redor do bolo o mínimo de sócios. Essa é a regra do jogo e dos negócios.

Tolos são os homens! Não vêem eles que, passado o primeiro impacto, as coisas se acomodam? O novo ganha seu espaço muitas vezes sem invadir o espaço alheio. E dali a algum tempo, findo o sabor da novidade, tudo se ajeita. Até que apareça outra inovação e a história se repita.

E vós, a quem este discurso de dirige; vós, em que a modéstia à grandeza se alia; que vosso nome receba aqui uma homenagem do tempo e dos censores pelo justificado e merecido louvor.” (Jean de La Fontaine)

Os homens vivem expostos aos perigos, alguns podem ser previstos e existe a prevenção contra eles, outros são inesperados.

Alguns perigos são evitáveis, mas devido a acomodação humana eles podem ocorrer e causar sérios prejuízos devido a sua gravidade.

Os caçadores estão sempre em busca de suas presas, as observam de perto e de longo, se fazem como pessoas comuns para poder passar despercebidas por suas prováveis vítimas. Quando os caçadores quando não conseguem alcançar suas presas, às vezes tentam pegar a presa que estiver ao seu alcance apenas para alimentar ainda mais seu instinto caçador, mortal e destruidor, pois, mesmo assim não estarão satisfeitos, apenas alimentarão ainda mais seu instinto.

Os homens buscam se defender dos males, utilizam as mais diversas técnicas e maneiras, podem evitar que pessoas más os atinjam, mas eles sempre estarão ao seu redor, planejando e buscando uma forma de atacá-los.

Os homens ao se defenderem devem ter cuidado, pois existe um limite para sua defesa, o excesso deve ser evitado, pois, ele pode colaborar para extensão das gravidades decorrentes das ações e reações e que gerarão inúmeras consequências.

O novo nem sempre é aceito, embora possa ser bom ou não, muitas vezes é criticado e dispensado antes mesmo de ser conhecido. Devido à existência do novo, muitas desconfianças podem ocorrer, bem como ameaças para afastá-lo ou o impedir, assim como existe o medo de conhecê-lo, também existe o medo de perder seu lugar á ele ou até de conviver com ele, mesmo que ele não queira tomar nada de você.

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